Não dêem vestidos à minha menina

Fiquei impressionada com a quantidade de vestidos que a Abeille ganhou no fim de ano. Cinco! Num universo de dez presentes, cinco eram vestidos. Os demais eram brinquedos educativos, baldinhos de praia, que vieram em boa hora, uma vez que tomei a decisão de não comprá-los eu mesma até que ela manifeste interesse por algum em especial. 

Com dez meses, Abeille cresce rápido e as roupas deveriam ser bem vindas. E são. Mas vestidos são feito bibelôs. Como bonecas de porcelana que ficam expostas nas estantes, mas não podem ser entregues às crianças, sob o risco de quebrarem-se no chão.

Abeille ainda nem deu os primeiros passos. Está em fase de engatinhar. Nem tem como um vestido ficar "elegante" numa criança levada no colo, sentada no carrinho, deitada no berço. Muito menos engatinhando. Vestido não é roupa adequada para engatinhar. A criança tropeça na saia, cai e não consegue continuar. Fica imobilizada. Criança tem que usar roupa funcional. Ou simplesmente não usar roupa nenhuma (assaduras melhoram sem as fraldas).

Engatinhar faz parte do processo de desenvolvimento motor natural de uma criança, seja menino ou menina. O movimento alternado, a percepção do corpo no espaço, tudo isso favorece novas formações sinápticas no sistema nervoso central que permitem maior assimilação no processo de desenvolvimento cognitivo. Segundo Therese Berterat, em seu livro O corpo tem suas razões, "Quando punimos a atividade física da criança, reduzimos-lhe o campo de experiência, entravamos o desenvolvimento de sua inteligência e a estimulamos a reprimir a expressão natural de suas emoções". Logo, não acho justo laçar as pernas da minha criança quando ela quiser engatinhar por aí como todas as outras. Ela será livre por enquanto e o quanto puder das amarras sociais.

 Eu não preciso adornar a minha pequena com brincos, babados ou laçarotes para que ela seja mais graciosa do que já é. Isto não a tornará mais esperta ou mais sensível. Portanto, deixem a minha cria solta para se desenvolver e circular por aí. Não dêem vestidos para a minha menina.