O título não faz jus 100% à minha realidade. Primeiro porque tenho uma filha só. Não tenho filhosss (ainda). Segundo, que não posso dizer que crio sozinha. Tenho o pai da Abeille para criar junto. Nos momentos em que ele pode, quando o trabalho permite, quando ele está descansado. Mas ainda assim, eu não acho justo reclamar, porque tem gente que é mãe solteira, separada, que passa perrengue. Tem gente que mora em outro país, que fica com o bebê sem ajuda de família em momento nenhum, o ano todo.
Mas mesmo assim, eu vou falar um pouco da minha experiência. Mais como um desabafo que como um relato de vida.
Moramos longe da família. Ok, 3 horas de viagem. Mas ainda assim, longe. Mãe, sogros, tias da criança. Todo mundo distante. Pra sair, pra um cineminha, pra um jantarzinho a dois temos que programar uma viagem (malas, estrada, pedágio) pra ir até outra cidade e deixar a Abeille com alguém. Por algumas horinhas, porque tem o mamá aqui, grudado em mim.
Eu senti muita dificuldade no começo. Achei que eu fosse a única pessoa no mundo que ficava sozinha em casa com um bebê (santa ingenuidade!). Que esperava o marido chegar já às 10 da noite, pra conseguir almoçar alguma coisa, se é que tinha alguma coisa na geladeira. Achava que era injusto ficar sozinha e ter que cuidar do banho, do soninho, da alimentação, levar pro mercado, pro banco, pro médico.
É cansativo cuidar de uma criança. É duro se programar nove meses para deixar o trabalho e enfrentar os questionamentos de todo mundo que te cerca (mesmo tendo uma pequena reserva, pra não depender de terceiros). É difícil estar longe da família, morar em rua de barro, em cidade pequena, que sequer oferece todas as facilidades de um bairro nobre numa cidade grande. É exaustivo ainda mais por não ter empregada e nem babá. E nem creche, de início, por falta de boas opções e também por ser parte de uma escolha, de levar uma vida com menos despesas.
Chorei sim, muitas vezes. Chorei sozinha por falta de quem me consolasse em casa. Levei cerca de oito meses para conseguir escrever este texto. Porque não haveria tempo para isso no intervalo de uma mamada/banho/legumes no fogo. E depois, caía no sono.
Claro que aprendi a simplificar tudo. A comprar roupas menos caras e mais duráveis. Abandonei a química e a chapinha. Encurtei as madeixas e assumi os cachos (que ela adora balançar). Adotei o uso de lingerie confortável e resistente. Roupas mais leves e coloridas (ela não tira o olho das estampas). Banhos mais curtos, menos perfumes, menos troca de bolsa, menos sapatos. Um brinco só pra semana toda.
Foram tantas mudanças que daria pra alimentar um blog por um ano inteiro, desfiando todos os detalhes. E foi justamente isso (as mudanças) que fez de mim uma nova mulher e deu espaço a esta mãe que me tornei.
Aprendi a evitar o choro, porque ela agora percebe minhas lágrimas. Aprendi a valorizar cada minuto que me viro sozinha com minha pequena, porque eles me tornam mais madura para prepará-la para o mundo. E aprendi a esperar para que o mundo me chame novamente para o turbilhão das coisas mundanas. Serei diferente então.
E quer saber? Tenho meus princípios. Tenho meu jeito diferente de educar. Criamos juntas uma afinidade e uma rotina que só os momentos a sós nos permitiram desenvolver. Sei dos horários dela, respeito o tempo dela, sei o que precisa, do quanto precisa de cada coisa. A minha criança é criada no chão, quase sem chupeta, quase sem fraldas ou mantas, sem pomadas, suplementos, acessórios, andadores... E quer saber? Quando finalmente estamos cercados de gente, eu às vezes até me perco. Os horários se confundem, as manhas se fazem presentes, o choro estridente. O cansaço se acumula, as vozes, estranha-se, os flashes disparam, as noites são interrompidas.
Alguma coisa sai do prumo. A conexão se perde temporariamente. Caminho, respiro. Mas é só de volta no silêncio de nosso lar que o equilíbrio se restabelece. Aos poucos. Sutilmente. Eu vejo a pequena no berço adormecida, como todas as noites, no horário dela. No meu horário. No nosso horário. Ali, na familiaridade de nosso ninho, me permito relaxar de verdade. Sou dona das minhas verdades, reconheço meu amor, meu corpo, meus verdadeiros desejos. Posso cozinhar, posso namorar, ser mãe e mulher, ser a dona do pedaço a que manda e desmanda, diz e faz o que quer.
As minhas escolhas aqui são as minhas escolhas. e se está dando certo até agora, não cabe a mais ninguém questionar. Aprendi a lamentar menos a distância e a me orgulhar mais dos resultados. Minha casa está sempre decente, limpa (não é fácil, não, mas eu nunca me entreguei às camisolas no puerpério), vou ao mercado com a Abeille, faço eu mesma a comida dela, com ingredientes saudáveis, sem açúcar, nem óleo, pouco sal. Ninguém me convence a dar farinha pro neném. Nem leite pasteurizado. O leite é meu!
Taí a menina. Um bitelão, saudável, sem gripes, sem alergias, sem assaduras, sem halopatia ou homeopatia. Ganhei força, justo quando as condições eram mais adversas. E se deu tudo certo, me sinto ainda mais confiante que farei um bom trabalho por aí. Que vou garantir meu futuro profissional de alguma maneira, quando eu retornar.
E aprendi a acreditar mais em mim. Nas minhas decisões que foram tomadas nas madrugadas distantes quando um bebê chorava sem dormir e eu não tinha mais ninguém para embalar. Acho que com o tempo, algumas coisas se tornam mais fáceis (o bebê vai se tornando menos vulnerável, menos dependente) por um lado, mas outros desafios virão. E essa etapa de entendimento deve ser crucial para seguir adiante. O amadurecimento vem junto nesta simbiose mãe-bebê. Só a gente sabe, mais ninguém. Aproveito a solidão para dar voz ao meu coração.
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