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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Deixando na creche

Ando nostálgica mesmo. Hoje, deixando Abeille na creche, eu me peguei segurando a mãozinha dela como se achasse que ela queria prolongar aqueles últimos minutos comigo antes de ter que passar horas na creche, em companhia de pessoas que há pouco tempo eram completamente estranhas à ela. Eu apertava sua mão como se dissesse que estava ali ainda e logo eu iria voltar para buscá-la, como faço todos os dias. Meu coração estava pequeno, sentindo o aperto da separação, quando me dei conta: Era eu que estava tensa. Era uma criança dentro de mim que apertava a mãozinha de alguém na esperança de que talvez aquele momento da separação, do grande portão se abrindo e me encerrando lá dentro pudesse ser retardado de alguma forma. Eu acredito que ela não sinta isso. Pelo jeito como ela entra, como ela repete animada a palavra "creche" quando estamos chegando, acho que ela deve estar bem resolvida. Eu espero que seja assim mesmo, lá no íntimo dela.
No começo, não era. Ela chorava e meu coração se apertava por aquele momento. Era verdadeiro, era por ela que eu me sentia mal. Não era por mim, como muita gente sugeria. Diziam que era normal criança chorar durante algumas semanas e eu não conseguia achar que era normal um serzinho pequeno de menos de dois anos, que ainda não sabe expressar palavras, ficar chorando e implorando pelo colinho de mãe. Diziam que era pior para mim que para ela. Não, não era. Eu sofria igual aquele choro e era por ela somente. Se ela esquecia depois que entrava eu digo que eu também esquecia depois que eu saía dali. Então, não era pior para mim. Era ruim para ela e eu percebia isso, simplesmente. 
O que não pode ser confundido com o que senti desta vez. Desta vez foi pior para mim. Ou suponho que sim, já que a menina é esperta, mas ainda não sabe conversar sobre suas emoções. Pra mim, aquilo foi uma espécie de catarse. Usei da situação para reconhecer um momento que foi meu um dia. Enxerguei meus medos, minha dependência de um representante. Mais especificamente e na maior parte das vezes a minha mãe. Eu aprendi a passar sozinha pelos portões, adquiri independência e a duras penas, sobrevivi. Mas deixa cicatrizes aquela insegurança e aquele aperto no coração de criança, que tensionava a mãozinha em busca de um apoio na mão madura. Não sei se aquela mão procurava e minha e me segurava firme como faço hoje com Abeille. Sem saber se estou certa ou se isso poderá ainda trazer a ela alguma tensão no momento da entrega ao mundo, mantenho o semblante tranquilo e um beijo risonho. Para dizer que o apertinho na mão e o afago é só um gesto de camaradagem, nada mais.
Só eu, no fundo, posso saber. O aperto é um medo meu, de mais ninguém.

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